Não quero mais ficar nesse sofá. Não quero mais sentir o cheiro de hortelã toda vez que me sento nele. Não quero mais abrir um livro, o som das páginas me faz lembrar você. E como você cruzava as pernas pra ler, e balançava os pés. Mas eu não quero ouvir o ranger da porta do quarto. Não quero mais me assustar com a árvore balançando quando venta. Também não quero mais sentir o vento. Não quero mais usar as minhas roupas, os meus perfumes. Não quero mais abrir a última página do meu caderno porque lá só tem o teu sobrenome junto ao meu. E o teu nome eu também não quero mais. E não quero tua caligrafia. Não quero mais fotografar o meu cachorro. Não quero mais ouvir o telefone tocar. Não quero mais meu travesseiro. Não quero contar as estrelas, ou achar desenhos em nuvens. Vou mudar meu estilo musical, não quero mais ouvir as mesmas músicas. Não quero usar meu esmalte preferido. Não quero tirar as meias. Não quero querer mais nada que eu queria, não tem mais graça. Sabe o que eu quero? Lembrar de você acariciando meu cabelo quando eu deitava no seu colo naquele sofá. Quero sentir o cheiro do chá de hortelã que você sempre tomava e uma vez deixou derramar. Quero que você abra um livro, e o leia pra mim com as pernas cruzadas, e balançando os pés. Quero ouvir o ranger da porta quando você entra no meu quarto. Quero que você me abrace quando me assusto com a árvore balançando nos dias de ventania. E quero que você abra a janela e deixe o vento entrar pra bagunçar nossos cabelos e brincar com as cortinas. Quero que você elogie o jeito que me visto, que sorria quando cheira meu pescoço. Quero que você pegue meu caderno e que, na última página, escreva nosso nome de casado. Quero que você diga que gosta do tom da minha voz quando digo teu nome. Quero invejar tua caligrafia. Quero tirar fotos tuas abraçado com o meu cachorro. Quero que o telefone toque e seja você do outro lado dizendo que vai me levar pra jantar. Quero tua cabeça no meu travesseiro. Quero que me ajude a contar as estrelas e que ria da minha incapacidade de achar desenhos em nuvens. Nunca quero mudar o estilo musical porque você gosta das minhas músicas. Quero usar o meu esmalte preferido mesmo sabendo que você detesta aquela cor. Quero que as minhas meias saiam dos meus pés enquanto eu tenho um ataque de risos com as suas caretas.
Eu não quero aceitar que você se foi. Eu quero lembrar de você todos os dias exatamente como era.
Olívia de Brito

3 xícaras de chá:
Nossa, quanto querer, quantos sentimentos bonitos.
Amei o texto, Olívia!
Que o Chá de Algodão Doce nunca perca esse encanto *-*
Muito lindo esse texto *-* estamos seguindo o blog viu? se quiser da uma passada no nosso,estamos começando! bjks!
Lindo demais seu texto, uma saudade escrita de um jeito muito bonito...
http://saiadeflorbm.blogspot.com
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