Contos de Brito: L.O.L.A. parte II

Estava 15 minutos atrasada para a aula de biologia e, mesmo correndo para chegar à sala, pensava em desistir e voltar. Não conhecia o professor, mas tinha quase certeza de que ninguém toleraria 15 minutos de atraso. Mesmo assim, não diminuiu o passo. Ao chegar no terceiro andar, olhou o papel em sua mão, procurando pelo número da sala. Número 307. Foi andando devagar, olhando o número de cada porta. 303, 305...
- Encontrei.
Ela podia ouvir o que se passava dentro da sala. Era uma professora, aliás, e explicava algo sobre células. Ótimo, primeira aula de biologia sobre o assunto que Lola mais detestava. Apertou os olhos, respirou fundo e bateu duas vezes na porta. Um arrepio correu sua espinha quando uma mulher de cabelos desgrenhados e óculos na ponta do nariz abriu a porta.
- Desculpe, eu me atrasei. Sou Eleonora... Hm, Lola.
A mulher estalou a língua nos dentes e enfiou a mão no bolso da saia longa e retirou um relógio de bolso.
- Sinto muito, senhorita, mas 17 minutos de atraso? Tem uma boa explicação? - colocou o relógio de volta no bolso.
- Não, não tenho.
- Então, até a próxima aula. É na quinta-feira. E não se atrase.
Terminando de falar, fechou a porta. O que fez Lola ficar bem irritada. Sabia que estava errada, mas bater a porta na sua cara?
- Maldita professora estúpida. - revirou os olhos.
- Nem me fale.
No susto, a menina se virou. Téo estava bem atrás dela, com as mãos no bolso e um sorriso torto no rosto. Uma mania dele. Se recuperando do susto, ela passou ao seu lado como se não tivesse percebido sua presença, mas ele a segurou pelo pulso.
- Qual é o seu problema? Me solta.
Mas ele não o fez.
- Senão...? - ele levantou uma sobrancelha.
- Senão... - ela arfou.
Ele a soltou, mas não se afastou. Olhou bem nos olhos dela e deu uma gargalhada. Em seguida, se virou e sem nenhuma palavra, se foi. Deixou Lola ali, irritada... Confusa. Tentando esquecer do que acabara de acontecer, a menina pensava o que devia fazer naquele momento. Estaria livre até a próxima aula, depois do intervalo. Desceu as escadas, sentou em um degrau já no primeiro andar e tirou caderno e lápis da mochila. Sentada ali, com o caderno apoiado nos seus joelhos, escreveu. Nada demais, apenas frases. A maioria sobre amor. Não estava apaixonada, mas gostava de escrever sobre aquilo.
- Viu? É inofensiva. Uma adolescente normal que acredita no amor. - reconheceu a voz de Téo mais uma vez.
Fechou rápido o caderno e se levantou, furiosa. Já se perguntava porque ele nunca chegava perto dela normalmente.
- Na boa? Isso já é demais. Não me enche, moleque!
- Acontece que você está em todo lugar que eu vou.
- Nossa, que fofo. Eu devo me jogar nos seus braços agora ou depois que você admitir que não consegue me esquecer?
- Adoro a sua ironia.
- E eu odeio a sua inconveniência. Agora some!
A menina se sentou novamente no degrau. Téo se sentou ao lado dela. Lola não disse uma palavra, mas ele sabe que ela não estava gostando.
- Me precipitei ao dizer que não gostava de você naquele dia. - disse Téo, pegando do chão o lápis da menina que havia caído sem ela perceber. - Eu gosto.
Lola corou, mas ainda estava com raiva. Não tirou os olhos do chão, nem respondeu o menino. Apenas esperou pra que ele dissesse mais uma coisa, ou saísse do seu lado.
- Mas você não precisa se jogar nos meus braços. - ele brincou, tentando fazer a menina sorrir.
- Eu não o faria. - ela disse, seca. Sem se mover.
- Nunca?
- Jamais.
- Eu duvido.
Ela virou, pronta pra perguntar "quem você pensa que é?", mas ele já havia se levantado. Desceu os degraus restantes e desapareceu em meio a multidão de pessoas que ela não havia percebido, mas ocupavam todo o primeiro andar. Ela permaneceu sentada. Não admitiria, mas seu coração nunca batera tão rápido. Sentia sua nuca formigar, cerrou os punhos e pela primeira vez viu Téo como algo a mais do que "o garoto tosco do corredor".